Agosto – 2011
Meus demônios têm hábitos noturnos. Eles aparecem quando eu estou sozinha, frágil. Eles puxam meu pé enquanto eu durmo, pra me acordar. Eles me roubam o sono por horas. Eles me assombram a noite inteira. Meus fantasmas esfregam coisas que eu quero esquecer na minha cara até eu ficar sem ar. Eles me fazem sentir tanta culpa que não cabe em mim. Eles transformam meu quarto todo em névoa, um cinema privado de tudo que poderia, deveria ter sido diferente. Eu viro pro lado, sopro com força pra neblina se dissipar. E um monstro salta de debaixo da cama, arranha minhas pernas até sangrar. Eu peço por favor, vão embora, me deixem dormir. Ele machuca mais, faz doer, faz meu coração bater por dentro dos meus olhos, transforma o meu corpo em um circo de horrores. Eu entro debaixo das cobertas, do travesseiro e eles abrem a janela, me fazem tremer de frio. Um vampiro sai do meu espelho deita por cima de mim, me abraça, me aquece, e finca os caninos na minha jugular. Suga toda a minha segurança, cada uma das minhas certezas, ameaça sugar cada um dos meus queridos para bem longe de mim. Aperta os meus ossos com força, parece que vai me esfarelar. Ele arranca minha calcinha, me violenta, me arrebenta, me deixa exausta. Eu nem consigo gritar. Eu não sei o que eles querem de mim. Quando o sol aparece eu não acredito mais em fantasmas, sou uma mocinha crescida. Quando o sol vai embora eu não tenho estaca, nem alho, nem varinha mágica nem nada que possa me proteger de mim mesma.