Novembro – 2011
Está tudo tão d i s t a n t e . . .
Os ecos estão esparsos
Não tenho tempo pra ouvir o que vem de fora
Não tenho olhos para os contornos da realidade
Estou me fechando como uma concha
Uma ostra
Porque eu tenho um monte de pérolas por dentro
Um universo inteiro
E eu sinto e vejo
Num estreito no qual meu coração se espreme
E dói da forma mais bonita
Tenho galáxias e fogos de artifícios explodindo no céu da boca
E meus olhos estão enxergando em
A
Q
U
A
R
E
L
A
Como se o mundo fosse um Boticelli
Os ecos grotescos
Não tenho mais tempo para ver, nem escutar
Não tenho mais vontade de adorar, nem de odiar
É só um espaço abafado
Estou afundando em mim para me afogar nos meus fluidos
Nos meus cantinhos
E eu não quero nada além
Da incrível maravilha de se existir
Como uma engrenagem que faz barulhinhos quando se move
Da incrível capacidade de transcender
Gênero, espaço, bagagem
E ser
Levitar
Adentrar
A profunda complexidade de um universo inteiro em expansão
Que se cria sozinho
Que é meu
(E tudo que está aqui fora
É só o que os meus tentáculos estrelados
Alcançam para degustar)
Por dentro do meu universo negro
Minhas galáxias, meus buracos negros
Meus meteoros e minhas supernovas
Eu posso sentir e projetar
Como um raio laser
Varrendo o mundo
De dentro pra fora
Uma ostra
Cheia de pérolas
Uma ostra
Guardando o universo inteiro
Vou me trancar em mim
Sem remorsos
E ficar pertinho das minhas pecinhas
Eu estou realmente
Cada vez mais próxima
Da existência
h.e.r.m.é.t.i.c.a