Inesperado – Inacreditável – Inevitável

Inesperado

(Junho/2014)

Meu Junho foi daqueles que a gente encontra sem querer nas esquinas da vida. Quando a solidão já estava por me engolir como areia movediça, quando já não conseguia enxegar através da névoa que andava comigo. Coisa louca, essas coisas que acontecem, numa noite fria de São João com a rua apinhada de gente, tanta festa, tantos risos, de repente fixei o olhar e lá estava meu Junho, olhando pra mim. Me deu tantas coisas, sendo que eu podia dar tão pouco em troca – cigarros, álcool, tesão, carinho. Foi resgatar lá no fundo de mim, trazer no colo de volta para a superfície a mulher que eu fui, me fez lembrar quem eu era, quem eu sou, quem eu posso ser. Ele nem imagina o quanto ele me deu tudo exatamente que eu precisava, na hora em que eu precisava, coisas que eu queria e nem sabia. Meu Junho foi verdadeiro e só eu sei o quão importante, e mesmo que passageiro mudou muita coisa na minha vida. Meu Junho veio e foi embora e não faz a menor ideia de tudo que ele fez por mim, do quanto ele foi capaz de me fazer me sentir viva, de aplacar a dor. Meu Junho foi Junho; aquele mês frio e lindo da transição no meio do ano, que é curto mas é cheio de festa e tem noites claras que dificilmente são esquecidas.

Inacreditável

(Março/2012)

Meu Fevereiro foi aquele, aquele mês que é o melhor do ano, mas também é o mais curto. Meu Fevereiro compartilhou da minha descrença, do meu sarcasmo, do meu ridículo. Passou por cima daqueles receios que todos os outros sempre têm em relação à mim e veio assim ser minha companhia sem se intimidar. Meu Fevereiro admirou as coisas certas, tocou na minha alma nos pontos chave, não teve medo de me dizer coisas sobre mim que eu nem queria que alguém soubesse, mas não me machucou. Ele me viu como alguém de verdade, tirou minha capa de plástico com aquele toque gentil. Meu Fevereiro entendeu o que eu não vou tolerar nunca mais, de ninguém, e tomou cuidado quando foi preciso, me deixou ser vulnerável quando eu precisei ser e soube que eu era forte o suficiente quando foi necessário. Meu Fevereiro me fez esquecer minha preocupação com fraqueza e me fez ser humana, carne e osso, sentimentos, sem medo de ser imperfeita. Meu Fevereiro me descobriu, me fez feliz, acho que nunca fui de ninguém como fui dele. Meu Fevereiro me fez mulher (mas eu devia saber que ia ser preciso um homem de verdade para me fazer mulher de verdade). Meu Fevereiro foi o mês do carnaval mais colorido e escapista e incrível. E como não poderia deixar de ser nesses casos, Março chegou e eu estou aqui sem saber o que fazer com esse saquinho de confetes que eu nunca, nunca, quero jogar fora.

Inevitável

(Setembro/2011)

Meu Agosto veio e foi embora. Me chamou de Aninha, mas não me colocou no colo, não me fez carinho. Meu Agosto foi como um galanteador de calçada, aquele que me deixa ruborizada com umas cantadas bem baixas mas não quer saber dos meus problemas. Meu Agosto riu da minha falta de tempo, da minha pressa, do meu estresse. Deitou na minha cama, ligou minha tevê pra ver o futebol de domingo e me deixou fazer mil telefonemas, mandar mil emails. Meu Agosto me levou pra em exibir para os outros, me mandou colocar uma saia curta, passar batom vermelho, para os amigos verem que ele está pegando bem. Me levou para lugares caros, me colocou como um troféu e me choveram todos os tipos de comentário. Meu Agosto me chamou de Aninha porque pra ele eu sou ‘inha’ mesmo, não porque ele é gentil. Meu Agosto não parou pra me escutar quando eu quis contar que às vezes sinto que estou carregando um mundo nas costas. Disse que função de mulher é estar no fogão e abrir as pernas quando ele quiser mesmo e que se eu estava me fudendo a culpa era minha. Riu da minha cara quando disse que precisava de amigos, companhia, que me sentia sozinha e tinha angústias. Tirou umas notas da carteira e me mandou fazer umas compras pra esquecer. Me encheu de álcool pra se aproveitar de mim. Meu Agosto fez com que eu me sentisse uma esposinha assustada. E como não poderia deixar de ser nesses casos, um dia disse que ia comprar cigarros e sumiu.

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