Meu novo Fevereiro veio como as águas de Março: Uma enxurrada. Uma tempestade de parar a cidade toda às três da tarde de uma segunda-feira. Nesse nosso jogo de cartas marcadas, dava pra ver que não tinha espaço pra mais nada além do cheque-mate. Parecido demais comigo, demais da conta, de um jeito que parece olhar no espelho. Mas mais cruel e mais acostumado a navegar as águas escuras das emoções alheias para roubar pra si um cavalo marinho, uma concha, um naufrágio. Ainda assim, meu novo Fevereiro foi tão deliciosamente irresistível que eu não tive escolha a não ser me deixar levar, pra despejar no colo dele o meu abismo sugador, o meu buraco negro, o sangue, o vômito, a verdade incômoda, deselegante e pouco atraente. Eu, que passei praticamente a vida inteira tentando achar as palavras certas pra me descrever fui encontrá-las logo na sua boca, quando ele falava dele mesmo. Mas afinal, foi exatamente isso que ele me deu, foi exatamente isso que aconteceu: Eu me enfiei em encrenca pra escrever a respeito depois. Então, pode-se dizer que meu novo Fevereiro foi um vampiro-dilúvio, uma profecia em si, o mês curtinho que veio e foi só para me lembrar de quem eu sou lá no fundo.