Mas afinal, o que é que tem na noite? O que me atrai e me puxa para estar e existir nos becos e nas brechas, nos labirintos de grafite e álcool, onde a minha casa e quem eu sou, a minha história e o que eu faço não importam? Eu sei que eu existo quando não existo pra mais ninguém, a não ser para as pessoas para as quais eu existo num instante fugaz. Eu me sinto viva acordando cada dia numa parte diferente da cidade, novos lençóis, novos cheiros, novos níveis de claridade, são todas sensações para a minha coleção. As marcas novas no corpo dolorido, são souvenires, lembranças do mergulho que eu fiz na existência de outra pessoa, deixando a minha esperando em outros portos. Quem vive na noite sabe que as horas duram mais. É como entrar numa caverna que não tem fim, nos segredos e nos desejos de alguém e eu quero, quero tudo, pode me dar suas inseguranças, suas histórias, suas fantasias, eu quero mais, eu quero você inteiro, eu quero sair daqui levando um pedacinho da sua alma no bolso da jaqueta. Não importa que tipo de pessoa você é, desde que eu conheça o seu mundo. Eu vou ser o bálsamo para os seus vazios, te dizer o que você quer ouvir, me entregar completamente, e aceito também de bom grado os choppes, os shots, os drinks, o alucinógeno a escolher, a conversa de boteco, a divagação filosófica, o desabafo ressentido, o sotaque diferente, as marcas de mordida, de unhas, os elogios fáceis, as promessas vazias, os beijos passageiros, não me prive de nada. Não estou aqui para entretenimento barato, nem para inflar o ego, embora as duas coisas eu acabe levando também. Estou aqui para aprender, para estar viva, para ver vida, para me preencher de vidas desconhecidas.