Meu Julho foi como um sopro de sonho que invadiu os meus dias. Tanto que parecia que eu estava vivendo a vida de outra pessoa. Tudo ficou em pausa. Fui abrandar a aspereza do cotidiano na sua voz baixinha, sua doçura inesgotável, fui me inspirar nas suas histórias, na sua coragem, no seu jeito de se atirar sem medo nas coisas – afinal, não deveria ser assim? Eu me afundei, me afoguei nessa nossa bolha de languidez e ternura. Fazia muito tempo que o sol por dentro não brilhava tão forte. Eu me deixei levar pelo seu senso de companhia. Eu me deixei me perder nos seus braços e o deixei penetrar fundo em cada um dos meus poros. Porque a gente se entendeu. Porque não tivemos medo. E agora, eu estou aqui me perguntando como eu consigo fazer isso tantas vezes. Como eu tenho coragem de enfiar meu coração no liquidificador sabendo que vai doer. Como eu tenho a capacidade de continuar me entregando tão completamente a tudo que vem e não fica. Mas eu sei, eu sei que meu Julho foi só meu e só nós dois sabemos o quanto. E eu vou levar cada sussurro, cada segredo, cada momento pelo resto da minha vida. Agora só me resta respirar fundo, juntar meu pedacinhos e continuar a estrada. Ele pode me levar pelo mundo afora no seu caderninho. Quem sabe um dia o universo se encarrega de nos esbarrar outra vez.