Você chegou na minha vida dizendo que era diferente dos outros, porque era um cara legal. E que eu era diferente das outras que eram fúteis, chatas, loucas, burras ou qualquer outro adjetivo que deveria servir para me fazer sentir especial.
Você era um cara tão legal que estava diposto a sair comigo apesar de todos os meus defeitos. E fazia questão de apontá-los entre os elogios que me fazia, só pra me lembrar, que eu não era assim tão ótima, que você que era, realmente, um cara muito legal por querer estar comigo.
E eu ficava tão confusa, com as gentilezas e os presentes, com os favores e a sua pressa em estar sempre de prontidão quando eu precisava de ajuda, e os seus comentários ferinos. Será que eu não estava sendo dura, exigente demais? Afinal, você era um cara legal, você não era um cafajeste que estava comendo todas, você queria sossegar, queria um relacionamento e queria estar comigo.
Mas você não me contou que a condição era que eu fosse o que você esperava de mim. Você não me contou que eu que eu era um projeto, uma pobre menina cheia de defeitos, que só precisava de um príncipe para resgatá-la, e aí sim ela ficaria perfeita. Mais calada, mais discreta, mais delicada, mais apresentável.
O que você não entendeu, meu caro cara legal, é que eu não sou o seu projeto. Eu sou um ser humano. Quando eu conto pra você dos meus sonhos e dos meus planos, não é para você rir como se eu fosse uma bonequinha que fala de coisas que estão fora de seu alcance. Quando você fala para eu dançar menos vulgar, tira o copo da minha mão, pede pra eu falar mais baixo na mesa, porque assim estou te envergonhando, saiba que eu estou apenas me divertindo. Veja bem, cara legal, eu acordo muito cedo, trabalho o dia todo, e no fim do dia eu quero relaxar assim como você.
Você adora dizer que é muito diferente dos cafajestes que eu já tive na minha vida, e que com você tudo vai ser diferente. Mas não entende que a magia e o tesão não podem ser roteirizados. Você está seguindo uma cartilha de atos de romantismo, coisas que você acha que eu quero, para poder me levar para cama. Não adianta planejar um jantar, me trazer flores, pagar a conta, me encher de presentes, se no fundo, você acha que tudo isso é me fazer um favor, e que eu te devo afeto, te devo sexo, te devo esforço para moldar a minha personalidade ao que você quer.
Você se gaba de ser diferente, mas não sabe que os cafajestes, aqueles dos quais você adora falar, pelo menos foram sinceros comigo. Se saíram comigo uma vez e depois sumiram, é porque estavam com vontade de ficar com outras pessoas. Não precisaram gastar seu tempo apontando defeitos em mim. Eles também foram espontâneos, e não estavam usando uma máscara de uma personalidade falsa para me impressionar. Por isso, eles escutaram, quando eu falei o que eu queria. E assim, nos divertimos de verdade, porque eles me enxergaram como uma mulher que estava no jogo tanto quanto eles. Os cafajestes que você critica, ao menos, me trataram como igual.
A verdade, cara legal, é que você nunca me viu como uma pessoa. Uma pessoa com desejos, planos, opiniões, medos, sonhos. Eu era só o seu projeto, pra você colocar debaixo do braço e sair mostrando por aí. A verdade é que no seu roteiro de gentileza, não tinha espaço para me ouvir e me conhecer. Porque você só enxerga a você, o quanto você é um puta cara legal, e por isso merece ter uma mulher bonita ao seu lado, e todas elas são iguais, e portanto, devem querer a mesma coisa.
É por isso, cara legal, que eu não caio mais neste conto. Eu não preciso de príncipe encantado. Eu não quero roteiros pré inventados. Se você quer me levar pra cama, seja sincero. Se eu quiser ir pra cama com você, eu vou. Porque eu sou um ser humano completo, com desejos, e coragem para bancá-los, e na sua narrativa, só cabe espaço para uma caricatura.