Cheguei atrasada no bar, toda esbaforida e descabelada, perguntando se ele estava esperando há muito tempo. Ele abriu um sorriso que parecia ter 85 dentes e respondeu que não, que eu podia ficar tranquila. O timbre da voz dele era doce e sereno, e quando nos sentamos eu já tinha esquecido todo o estresse da correria.
Conversamos por horas. Sobre tudo, sobre a vida, sobre os planos. Drink depois de drink depois de drink, e eu perdi a conta de quantos foram. Ele tinha um olhar tímido, o sorriso aparecia às vezes, os olhos cor de mel procurando o teto quando ele lembrava de alguma coisa particularmente especial. Conversar com ele era uma experiência sinestésica: Ele não contava que fez isso ou aquilo. Ele falava das sensações, das impressões, do vento que batia à noite quando ele cruzava o rio Amazonas de barco, ou do sol nas andanças pela América Central. Muitas vezes, eu senti como se também estivesse lá. Ele me levava com as palavras.
Não tocou em mim a noite inteira. Tenho certeza que no fim da noite eu já estava dobrada em cima da mesa, desmontada, alcoolizada e irremediavelmente atraída. Mas ele continuou a conversa sem nenhuma tentativa séria de me beijar, embora eu tivesse notado que ele não tirava os olhos da minha boca. O bar fechou e nos expulsaram. Saímos andando pelas ruas, ele comentou que ia para o bairro vizinho ao meu, e eu que já estava sem filtro há muito tempo, fiz o convite para que ele fosse para a minha casa.
Quando ele finalmente me beijou parece que fui sugada por um rodamoinho. As mãos dele contornavam o meu corpo como se quisessem memorizar cada detalhe. Quase tive um treco quando desabotoei sua camisa e descobri um mosaico de tatuagens coloridas cobrindo o peito do cara tímido. E essa não foi a única surpresa. Eu, que sempre fui muito dominante na cama, me vi de repente completamente submissa, a mercê, sem saber o que fazer. Ele me dominou totalmente, não se impondo agressivamente, mas me fazendo incapaz de pensar com beijos torturantes no meu corpo inteiro, mãos que sabiam exatamente como tocar, apertar, envolver. Fui adorada dos pés a cabeça, dos lados, do avesso.
Transar com ele também foi uma experiência sinestésica. Meus sentidos se fundiram num só. Ele gastou horas nas preliminares, completamente devoto em me fazer gozar uma, duas, três vezes, e quando finalmente estava dentro de mim, todos os meus nervos pareciam estar conectados. Eu ouvia ele sussurrar desperado no meu ouvido que aquilo era tudo que ele queria, era tudo que ele precisava, e não conseguia ficar quieta. Em certo momento ele disse, “mas e a sua roommate?” e só rosnei um “foda-se”, por que isso lá é hora pra ser altruísta?
Não sei quando dormi. A impressão que tenho é o sexo se misturou com o sono, e nunca acabou. Quando acordei, envolvida por ele por todos os lados, disse que precisava levantar, ou iria chegar atrasada no trabalho. Ele disse que não queria me atrasar.
Mas me atrasei.
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