
Tinha acabado de fazer 18 anos quando conheci a T. Estava passando as férias em uma cidadezinha do interior de Minas chamada Lagoa da Prata, que eu sempre ia para visitar meu amigo Gabriel. Só que aquelas férias eram diferentes: Tinha acabado de me formar no ensino médio e era maior de idade, o que significava que eu ia garantir legalmente o suprimento de álcool de todo rolê.
Num dia sem fazer nada ao redor da lagoa, ela chegou. Pôs a minha adultisse no chão. A T. usava uma jaqueta de couro, óculos escuros, tinha um corte de cabelo descolado. Ela tinha 18 anos há pouco tempo também, mas já tinha saído da casa dos pais há anos, para cursar o ensino médio em outra cidade. Ela contou que tinha acabado de terminar um relacionamento, que era complicado, porque ela morou por um ano com a menina. Acendeu um cigarro, ajeitou a jaqueta e ficou contemplando a lagoa.
Naquela época, eu era uma pamonha. Nunca fui tímida, mas eu era insegura demais para ficar a vontade na presença dos outros. Não sabia como agir, não sabia me colocar, tinha medo e vergonha de soar errada. Tinha vergonha de ser tão magrela, usava as bermudas que roubava do meu pai, meu cabelo estava eternamente preso num rabo de cavalo sem graça. Ainda ia demorar muito tempo para eu conseguir me sentir confortável para ser a pessoa que eu era.
Fiquei interessada na T. logo de cara, mas imaginei que ela nunca ia me querer de volta. Imagina, a menina era toda experiente, até morado com outra garota tinha, e eu no máximo tinha dado uns amassos em banheiros públicos depois de muito álcool. Além disso, ela tinha acabado de terminar o namoro, estava chateada. Afastei a ideia da minha cabeça e passamos dias ótimos, fazendo piadas enquanto andavamos de uma ponta a outra da cidade, pensando em como ia ser o futuro quando a vida parecia uma página em branco.
Quando chegou o reveillón, falamos para a mãe do meu amigo que íamos passar a virada na única boate da cidade. Mentira deslavada porque nos achávamos cool demais para nos misturar com o resto do pessoal que não usava all star e não ouvia The Clash. Em vez disso, nos juntamos eu, meu amigo, a T. e outro amigo nosso e alugamos (usando a minha carteira de identidade, com muito orgulho) um quarto num hotel podreirinha da cidade. O hotel era bem antigo, o quarto parecia de uma casa velha mal assombrada. Mas para nós nada podia ser mais uma celebração da nossa liberadade do que nos trancarmos naquele quarto com um monte de álcool e cheetos e assistirmos show da virada.
Já passava das uma, estávamos todos bêbados rindo do esforço da repórter da Globo para continuar preenchendo a transmissão dos fogos de Copacabana quando ela obviamente não tinha mais nada pra falar. Eu estava deitada em uma das camas do quarto, a T. do meu lado, quando por algum motivo, em algum momento, ela começou a fazer carinho na minha perna, a mão subindo debaixo da minha bermuda.
Gelei. Não sei se os meninos perceberam. Tentei agir normalmente, continuar a conversa, mas a minha voz foi morrendo, até que eu fiquei calada. Com 18 anos, apesar de já ter tido um namoro longo, minha experiência em se tratando das putarias era quase zero, tanto com meninos quanto meninas. Minha vida amorosa tinha sido muito confusa e platônica até então, meus encontros eram sempre rápidos, em situações estranhas, quase sempre com gente tão inexperiente quando eu.
A T. não era inexperiente.
Era uma coisa tão simples, uma carinho na parte detrás da minha coxa. Eu já tinha ido muito mais longe do que aquilo. Mas mesmo assim, parecia que os nervos da minha perna estavam diretamene conectados com o meu cérebro. Eu fui ficando encolhida, minha respiração foi ficando mais rasa. Eu tentava disfarçar, com medo que os meninos entendessem a situação, mas sentia que eu ia ficando cada vez mais excitada. Tenho a lembrança nítida da sensação da mão dela acariciando minha perna e sentindo minha calcinha ficando molhada, pulsando de tesão. Acho que foi uma das vezes em que eu fiquei mais excitada na vida.
Aquilo durou muito tempo. Não sei se ela não sabia se eu estava interessada, ou só queria me torturar mesmo, mas o fato que é que para mim pareceram horas. Eu sentia que a qualquer momento ia vazar e molhar o lençol. A excitação foi lentamente derrubando a minha vergonha e depois de muito hesitar, eu alcancei a perna dela, coberta por calças jeans, devagarzinho para retribuir o carinho. Não sabia o que fazer, mas não queria que aquilo acabasse. Tentava soltar o ar devagar pela boca para não arfar.
Foi então que ela falou bem baixinho para mim, “eu voto a gente ir para o banheiro”, com a maior gentileza do mundo. Parecia que ela podia captar o meu nervosismo, e queria me deixar a vontade. Eu acho que só fiz que sim com a cabeça com aquele entusiasmo característico dos adolescentes.
Fomos. Eu olhei para o chão, com vergonha de encarar meus amigos, que claro, já tinham notado o clima muito antes de mim até e estavam torcendo por nós duas. Entramos no banheiro que também tinha aquele ar de casa velha. A luz não funcionava, mas eu por dentro achei melhor assim. Lembro que entrava um fiozinho de iluminação pela janela, provavelmente de um poste na rua. A gente se encostou na porta e começamos a nos beijar.
Sinceramente, eu perdi a noção do tempo. Passamos horas naquele banheiro. Ela me passava a sensação de estar 100% segura do que fazia, e eu, do alto da minha inexperiência, abandonei o controle do meu próprio corpo e simplesmente me deixei levar. Quando eu vi, estava de calcinha e sutiã na frente dela. Eu nunca tinha ido tão longe com ninguém. De repente fiquei muito consciente de que pela primeira vez estava numa situação em que poderia ir até o fim e de fato transar com alguém. A perspectiva me assustava um pouco, não sabia se estava pronta. Mas ela não forçou a barra. Pelo contrário.
Desceu a mão pelo meu corpo, com perícia de quem sabe o que está fazendo. Desceu para dentro da minha calcinha, foi passando os dedos por toda a minha boceta bem devagar, até que eu relaxei. Aí ela começou a tocar o meu clióris no ponto exato, do jeito certo. Eu gemi alto. Nunca ninguém tinha feito aquilo comigo antes. Eu não conseguia mais raciocinar. Todas as minhas inseguranças viraram fumaça. Eu abri as pernas o máximo que dava, me apoiando na porta atrás dela. Eu sentia que não seria capaz de lidar com todo o tesão que eu estava sentindo, parecia que eu ia desmaiar, ou explodir, ou gritar.
Depois entramos na banheira vazia (que não funcionava) e lá ficamos até o amanhecer. Não fizemos muito mais do na porta – bem que eu tentei retribuir as carícias, mas não fui tão bem sucedida na missão. Ficamos nos beijando, as mãos em todos os lugares, até que a gente percebeu que estava amanhecendo.
Depois disso, vi a T. algumas outras vez, em episódios aleatórios. Nunca mais ficamos. Mas aquele reveillón abriu um mundo de possibilidades para mim, e eu sinto que eu não fui mais a mesma pessoa.