
Que loucura isso aqui. Parece que a gente está numa bolha isolada do universo inteiro. O frio na barriga que eu sinto é claustrofóbico. É exaustivo ficar perto de você. Meus nervos ficam tão hiperativos que eu preciso de dias pra me recuperar das ressacas que você me causa.
Parece que o seu toque se encaixa no meu corpo com precisão cirúrgica. Eu estou vendo você me olhar desse jeito como se você achasse que eu sou demais pra você, e quem sabe deve ser mesmo, não é isso que todo mundo acha sempre, então diz. Fala o meu nome. Estala a consoante no céu da boca. Deixa as vogais derraparem nas arestas do seu sotaque. Eu quero ouvir você me chamar, quero ouvir meu nome estourando da sua boca como uma bolha de sabão. Eu quero existir nos seus lábios. Eu quero existir. Eu quero existir nos outros, quero sentir o que eu penso e o que eu sinto faz algum sentido para além dos meus momentos de solidão com a máquina de escrever. Estou cansada de ir, de voltar, de tentar, eu quero me desmontar, eu quero me deixar revirar, eu quero a verdade para além das personalidades inoxidáveis que a gente inventa. Toda história tem sempre dois lados, ninguém é exemplar o tempo todo, não quero ser nada, mais nada, não quero mais nenhum adjetivo chique, eu só quero a invasão do seu beijo febril, a dor do seu toque, todas as filosofias esquecidas no pé da cama. Só você, o meu nome, e as nossas inseguranças, brincando juntas na escuridão.
CA-RA-LHO
Bonito, forte, intenso.
As imagens passam no trem da vida como um TGV a 330 Km .