Ode a um sentimento forasteiro

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Uma das coisas que eu mais gosto em aprender línguas é que a gente ganha novas ferramentas pra explicar o mundo ao nosso redor. Tem coisas que a gente sente ou sabe, mas na nossa língua elas não têm nome, e aí a gente descobre magicamente que existem em outra língua e parece que o mundo ganha uma nova pecinha.

Gosto muito, por exemplo, da palavra infatuation do inglês, que é usada para descrever aquela sensação de paixão passageira ou crush em bom português, mas que tem uma conotação de sentimento intenso e fugaz que não tem paralelo na nossa língua. Ou a sobremesa do espanhol, que não significa necessariamente quitutes docinhos, mas sim aquele papo que se segue a uma boa refeição e pode se estender por horas. Nunca entendi como não temos tradução para essa palavra em mineirês, sendo que nós mineiros somos especialistas em sobremesear.

Os alemães são campeões em dar nome pra tudo; pode pensar nas coisas mais específicas que elas vão ter alguma averbação em alemão (de preferência com muitas consoantes todas juntas). Fernweh, por exemplo, descreve o desejo intenso de se estar longe, sentimento esse que precisamente que me trouxe para a Alemanha quase dois anos atrás.

Mas de todas essas palavras que as outras línguas me trouxeram talvez nenhuma me fascine tanto quanto longing.

O Google me diz que o significado de longing é “yearning desire“, que por sua vez pode ser traduzido literalmente como “desejo ansiado”.

Hmmm, desejo ansiado.

O que mais me pega nessa palavra é justamente o sentimento que ela descreve. É um tipo de desejo tão intenso que queima. Aquele sentimento de querer tão desesperadamente que dói por dentro, dói lá no fundo, em algum lugar que fica mais ou menos atrás do umbigo.

Sabe?

Eu acho que poucas sensações me fazem me sentir tão viva quanto longing. Me aperta no ventre, mexe com meu instinto mais primário de querer, querer e ponto, sem justificativas ou racionalizações.

É uma emoção que se basta.

Chego à conclusão que talvez seja essa uma das minhas emoções preferidas na vida; longing aparece no olhar, contamina a voz, o toque, até a respiração. É uma emoção poderosa, incontrolável.

Senti longing por inúmeras coisas e pessoas, muitas vezes também ansiei dessa maneira extremada por outras emoções. Poucas vezes me senti na outra ponta deste sentimento, mas aí vale lembrar que eu sou insegura e um pouco cega, e me falta sensibilidade para detectar determinadas coisas.

Mas minha vaidade não me deixa mentir que ser objeto de longing me parece mais sedutor que ser objeto de paixão, admiração, tesão, até amor.

Acho que no fim, eu passei e continuo passando a vida toda longing por longing.

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