O conto abaixo foi escrito para a primeira Tertúlia Erótica da SESLA que rolou ontem em Coimbra. O tema do evento era os cinco sentidos e eu fiquei super honrada com o convite! Teve leitura dramática do conto juntamente com o restante da programação e eu fiquei muito feliz de ter contribuído. Espero que gostem e não esqueçam de curtir a página da SESLA no Face para ficarem por dentro dos próximos eventos!

Visão
A culpa é minha. Deve ser, afinal, eu que quis vir. Acontece que eu também tenho direito de me divertir. Só que fica meio difícil, quando ele não tira os olhos de mim. O jantar inteiro foi assim. Parece que é de propósito, parece que ele gosta de me ver assim, tremendo na cadeira por causa dele.
Se eu vou querer mais vinho? Sim, por favor, pode encher. Minha visão já tá ficando meio borrada e ainda assim eu consigo sentir os malditos olhos dele em cima de mim. Será que ninguém mais percebe? Será que eu estou ficando doida? Eu tô tentando concentrar no papo que tá rolando do outro lado da mesa e eu sinto o olhar dele me queimando. É quase como se ele conseguisse fulminar o fecho do meu sutiã, e do jeito que esse vestido é decotado a mesa inteira ia ver meus peitos.
Talvez seja coisa da minha cabeça. Afinal, ele está sentado na minha frente, para onde mais ele iria olhar? Eu respiro fundo pra criar coragem, correndo os olhos pela superfície da mesa. Tigela, pãezinhos, cinzeiro, vela, garfo, faca. Quando eu levanto o olhar, ele está me encarando de frente. O olhar dele é constrangedor. Ele sorri de canto de boca, um sorriso mínimo, quase imperceptível, antes de baixar os olhos pelo meu pescoço, pelo meu colo, pela curvinha do decote. É como se minha pele tivesse sido lambida por uma labareda, eu juro que dá para sentir o caminho que os olhos dele estão fazendo.
Eu viro o restante do vinho. Puta calor aqui, hein? Ajeito o vestido para o decote não ficar tão sem vergonha, e ainda assim ele não. para. de. olhar.
Paladar
Hora da sobremesa. Hora do xeque mate. É agora ou nunca. Eu sei que ela está me olhando quando eu me sirvo de um morango. Escolho um bem maduro, bem vermelho, bem suculento. A pontinha da minha língua passa pela pontinha da fruta. Ela arregala os olhos quando percebe o que eu estou fazendo. Vou passando a língua em círculos bem devagar, sem tirar os olhos dela. Ela está tão corada que até o seu colo está ruborizado, o prato de sobremesa cheio de frutas intocado. Eu passo a chupar a pontinha do morango Os outros continuam a conversa animada na mesa, sem notar o que a gente está fazendo.
Eu quero que ela saiba que é isso que eu quero fazer com ela. Não tiro nunca o morango da boca, só um pedacinho, até ele estar começando a derreter. Como eu queria que fosse o clitóris dela se enrijecendo contra a minha língua, eu tenho certeza que ia ser tão, tão mais gostoso, só de imaginar o gosto da boceta dela meu pau fica duro. Os nós dos dedos ela estão brancos de segurar a borda da mesa com força, e eu sei que ela pode sentir, porque eu posso sentir também, e quando eu fecho os olhos porque não aguento mais a textura do morango muda, se torna lisa e escorregadia e dá pra sentir, dá pra sentir o calor do corpo dela contra o meu rosto, ela se contorcendo na minha boca enquanto eu chupo devagar, devagar, bemmm devagar porque eu quero aproveitar cada gotinha, quero sentir o gosto de cada cantinho e dobrinha, pensar em tê-la pra mim deixa o meu pau latejando dentro da cueca.
Quando eu mordo o morango ele explode na minha boca, uma bagunça, e que delícia seria poder me lambuzar nela desse jeito, vou me embrenhando como eu queria me embrenhar nela, ir devorando e abrindo ela todinha pra mim, puta que pariu, eu quero fazer ela gemer, eu quero que ela sinta o tesão que eu sinto toda vez que ela está por perto, eu quero ela sentando na minha cara, gozando na minha língua e…
Eu abro os olhos. Ela está com cara de quem está sem respirar há muitos minutos. O sumo da fruta está escorrendo pelo meu queixo, tem gosto de gozo, e eu não sei como ninguém mais notou o que acabou de acontecer.
Tato
Eu pisco para ver se meu cérebro pega no tranco. Olho ao redor pra checar se ninguém percebeu, mas está todo mundo absorto num assunto qualquer. A renda da minha calcinha esta tão encharcada que grudou no vestido, e por um momento de pânico eu penso que posso ter manchado a cadeira. Me ajeito no assento. Puta que pariu, tô tão molhada que é até desconfortável. Eu estou um pouco trêmula, meu corpo sentindo pequenos choques como se quisesse a língua dele de volta em mim. Como isso é possível?
Bom, se é assim que vai ser, também sei brincar. Mais um pouco de vinho, e me sirvo de uma uva. Ele recosta na cadeira, com uma cara safada que me dá vontade de acertar um tapa, sabendo exatamente o efeito que ele tem sobre mim. Eu levo a fruta à boca, estourando contra o meu céu da boca, aproveitando para umedecer o indicador na saliva, antes de checar se todo mundo continua distraído e descer a mão pelo meu corpo, separando a fenda do vestido estupidamente curto. Ele fica boquiaberto quando percebe o que eu estou fazendo.
O quê, ele achou que só ele fosse capaz de surpreender?
Passo a pontinha dos meus dedos pelo alto da minha coxa; minha pele está fervendo. O toque de leve me fez arrepiar, todos os meus nervos tão eletrizados que a resposta é instantânea. Quando eu alcanço a barra da calcinha sinto a umidade através do tecido, passeando os dedos de leve por ali, me contraindo tanto que eu chego a me encolher na cadeira.
Ele continua de queixo caído, observando incrédulo enquanto eu toco uma em plena mesa de jantar. Eu tô tão excitada que chego a ficar tonta, quase não resistindo à provocação, quase puxando a calcinha pro lado e me tocando até em gozar na frente de todo mundo, gemendo bem alto, chamando o nome dele pra todo mundo saber quem é responsável por eu perder a compostura desse jeito.
Eu grudo as costas no encosto da cadeira, abrindo mais as pernas, olhando para ele por detrás da pálpebras semicerradas, respirando devagar enquanto vou aumentando a pressão dos meus dedos, fazendo movimentos circulares bem lentos. Logo eu enfio a mão dentro da calcinha, me tocando do jeito que eu já sei fazer, e mordendo meu lábio para não deixar nenhum gemido escapar.
Ele corre os olhos arregalados pelo meu corpo, o vestido afrouxando no meu decote, com uma expressão de desejo que beira o pânico. Depois derruba o guardanapo no chão, agachando debaixo da mesa para pegar.
Eu separo as pernas.
Sei que minha calcinha é transparente.
Sei que ele consegue ver tudo.
A situação só aumenta o meu torpor e eu puxo a calcinha para o lado com um dos dedos me expondo completamente, antes de largar o elástico.
Ele emerge de novo na cadeira, pálido. Eu paro que eu estava fazendo. Parece que a bolha erótica estourou e de repente estamos muito conscientes do que está acontecendo.
Audição
Meus ouvidos estão zumbindo. Eu não consigo acreditar no que acabou de acontecer, no que eu acabei de ver. Só lembrar faz meu pau pressionar o zíper da calça. Minha vontade era de arrancar aquela calcinha, rasgar em duas,e começar a chupar ela debaixo da mesa mesmo.
Eu pisco algumas vezes, pra ver se o aturdimento vai embora. Meu pau tá tão duro que até dói. Eu vejo ela toda corada na minha frente, os lábios vermelhos, linda, ela é tão linda e eu não imaginei, dessa vez ela realmente me surpreendeu, e eu preciso fazer alguma coisa, não dá mais pra esperar um segundo.
Pensa rápido, pensa rápido.
– Puta, olha só o que eu fiz… Derrubei vinho na minha calça.
– Ih, tem que limpar logo senão mancha.
– Tem uns shorts do Marcelo lá dentro, daí você já coloca de molho.
– Eu sei onde está. – Ela diz, a voz trêmula no começo, mas se firmando depois. – Te mostro.
Eu levanto com as mãos escondendo a suposta mancha, que na verdade é a minha pica querendo explodir dentro da calça. A essa altura já liguei o foda-se se eles estão percebendo ou não. Ouço os passos dela atrás de mim, fechando a porta da quarto.
– Você enlouqueceu e tá me enlouquecendo junto. – A bronca obviamente perde um pouco do efeito com os acontecimento recentes.
– Só falta agora você continuar fingindo que não quer. – Tá na cara que nós dois estamos à flor da pele, uma mistura de tesão com raiva que está borbulhando há tempo demais.
– Querer é lógico que eu quero, só que não está certo.
– A gente já foi longe demais agora.
– Para…
– Não. Eu não vou parar. Eu tava a ponto de te colocar de quatro na mesa e te comer na frente de todo mundo. Você tava se tocando, toda molhada por minha causa e eu quero sentir. Eu quero provar. – Ela sacode a cabeça.
– Isso é loucura.
– A gente já parou de resistir faz tempo. – Ela suspira, derrotada. Eu tô com vontade de ver ela chorar só pra ter certeza, certeza, que ela sente a mesma coisa que eu, mas eu sei que sim, eu sinto que sim, eu vi. – Você sabe.- Ela enterra o rosto nas mãos e eu tiro elas de lá imediatamente, prendendo na porta atrás dela. Ela está tão perto, muito mais perto do que jamais esteve, e eu juro que ainda tenho o gosto do gozo dela na minha boca, misturado com o morango. – Deixa eu sentir. Eu quero sentir o quanto eu te deixei molhada com a minha língua agora há pouco.
– Para, a gente tem que voltar. – Ela se vira para ir embora mas eu prendo ela na porta de novo.
– Quando eu vi. – Eu começo, afundando o rosto no pescoço dela, e quase sem reconhecer minha própria voz, que está saindo num grunhido. – Eu queria rasgar a sua calcinha, queria rasgar o seu vestido, queria te fazer sentar na minha cara até você me implorar pra eu parar de te chupar porque você não aguenta mais. Eu quero tirar a sua calcinha agora, deixa, por favor… – Um gemido escapa, porque só de pensar, só de pensar eu tô quase a ponto de perder o juízo, meu pau já melou minha cueca inteira. Ela geme baixinho em resposta e eu colo nossos corpos, e aí a gente geme junto, minhas mãos descendo pelo vestido dela, apertando com força, os peitos, a cintura, o quadril, caralho, eu quero arrebentar esse pano todo AGORA.
Gemo de novo quando aperto a bunda dela por debaixo do vestido, e passo meus dedos pela calcinha. Parece que eu esqueci de respirar enquanto desço a calcinha até os joelhos, acho que eu tô prestes a desmaiar porque todo o meu sangue desceu pro meu pau.
Olfato
Já esqueci de tudo, acho que até do meu nome. Ele morde o lóbulo da minha orelha, ainda sussurrando indecências, mas o discurso está cada vez mais embolado e sem sentido. As mãos dele sobem me apertando por cima do vestido, antes de desamarrar o fecho e abri-lo. Ele desabotoa meu sutiã e em mais ou menos três segundos estou praticamente nua, minha calcinha prendendo minhas pernas na altura dos joelhos.
E a única coisa que eu consigo sentir é o cheiro dele, aquele cheiro que ele sempre fica impregnado em mim quando ele me cumprimenta, aquele cheiro daquele moletom que ele me emprestou uma vez e eu nunca devolvi, aquele cheiro que pra mim é cheiro de sexo, de desejo, de pecado. Eu estou tremendo da cabeça aos pés, de adrenalina e tesão, tudo misturado.
Ele morde o meu pescoço com força, se esfregando em mim, e eu puxo ele pra mais perto, se tivesse como acho que a gente se fundia. Ele me vira de volta pra ele, e eu estou completamente entorpecida.
– Me diz que você me quer também. Eu preciso ouvir.
Eu resgato o último fio de voz que tenho pra responder.
– Eu quero.
FIM