Vlog: Histórias de horror no ginecologista

Recebo quase todos os dias mensagens de mulheres por causa do vlog que eu fiz esclarecendo dúvidas sobre o HPV. Geralmente, elas acabaram de receber o diagnóstico, estão confusas, desesperadas e com vergonha.
O vídeo que eu fiz tem informações muito básicas – que deveriam ser passadas pelos ginecologistas na hora do diagnóstico. Porém não é isso que acontece.
Isso é só um sintoma de um problema generalizado. Toda mulher tem uma história de horror de um ginecologista pra contar. Descaso, falta de informação, grosserias, abusos, slut-shaming… A lista é longa.
Numa sociedade em que a sexualidade feminina ainda é tabu, o consultório ginecológico deveria ser um oásis para mulheres discutirem sua saúde com informações precisas e longe de julgamentos. Mas não é o que a gente vê por aí.

No vlog dessa semana eu conto minhas histórias macabras de gineco pra levantar uma discussão sobre porque este atendimento fica cada vez mais precário.

 

Atenção, jovens! O Outubro Rosa também é para vocês

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Fonte: Flávia Totoli

Os números estão aí, e não são bons. Embora ainda raro, o câncer de mama em mulheres jovens está aumentando. Entre 2010 e 2015, houve um aumento de 2,6% nos casos em mulheres abaixo dos 40 anos. Com o agravante de que o câncer é mais difícil de ser detectado em tecidos mais jovens, e muitas vezes ele pode ser mais agressivo que em mulheres mais velhas.

Porém, não é um caso para alarmismo. É um caso para prevenção. Como em quase todo tipo de câncer, o diagnóstico precoce é a melhor arma na luta contra o tumor. Pessoalmente, acho que a campanha do Outubro Rosa tem se desvirtuado bastante, e é preciso retomar o seu propósito original: Falar de prevenção ao câncer de mama e saúde da mulher.

Muitas vezes estive em consultas com médicos displicentes com a minha saúde por causa da pouca idade, mesmo eu tenho histórico de câncer de mama na família. Por isso, é importante que a gente se aproprie da nossa saúde, faça o autoexame, e procure segunda opinião sempre que sentir que o médico não está nos levando a sério. Uma dica que funcionou comigo, caso você seja atendida por plano de saúde, é denunciar o clínico ao SAC do plano. Fiz isso uma vez quando um ginecologista se recusou a fazer o ultrassom das mamas, mesmo eu insistindo que tinha dois casos de câncer na família. O médico foi notificado, e o plano me indicou uma segunda ginecologista que pediu o exame.

Por sorte, eu nunca tive nenhum nódulo, e tenho seios bem pequenos, o que facilita na hora do autoexame. Mas os casos de tumores em mulheres abaixo dos 35 são mais comuns do que se pode imaginar. Abaixo reuni relatos de diversas mulheres jovens e suas experiências com a saúde das mamas:

Bruna, 25 anos

Ano passado, minha mãe foi diagnosticada com câncer de mama. 2016 foi um ano muito difícil. Eu sempre que lembrava fazia o autoexame, mesmo me achando nova e acho que errado também hahaha. É meio esquisito e nunca senti nada. Aos 22 anos coloquei silicone. E na ecografia mamária foram detectado dois nódulos na mama direita. Os medicos disseram que é comum entre as mulheres e na minha idade nao seria nada demais. Os nódulos foram retirados na cirurgia do implante. A biópsia não acusou nada também.

Fui ao meu médico no final do ano passado, pois gostaria de engravidar. Na nova ecografia apareceram três nódulos na mesma mama. Ou seja, em nem três anos eles voltaram… Saí chorando, pois o medo de passar futuramente por tudo que a mãe passou me assustou, né. Mas segui com os planos de engravidar, e estou quase ganhando já. Após amamentar, voltarei ao médico, vou marcar com o mastologista que cuida da minha mãe para facilitar a comunicação. Acredito que ficarão mais de olho em mim pelo histórico.


Lívia Beatriz, 26 anos

Quando eu era criança, eu adorava fazer o autoexame. Só porque eu achava bonito ser uma mulher adulta fazendo coisas de adulta, como muitas crianças. Daí, sempre fiz regurlamente. Até encontrar um caroço, aos 18 anos. Já pensei que era câncer. Mas era só um nódulo grande mesmo. Fiz a cirurgia para retirar porque ele estava um pouco grande mas o ginecologista mesmo falou que não tinha necessidade. O recomendado é tirar quando tem mais ou menos 1cm e ele tinha mais que o dobro. Daí, achei melhor tirar. O que achei louco na época é que eu ainda fazia só de zoeira mesmo. Fiquei com medo de achar mais hahaha mas tem que fazer, né… porque quando menos esperamos, pode rolar.


Luíza*, 27 anos

Este ano eu resolvi fazer um ultrassom das mamas e axilas, simplesmente por nunca ter feito antes, e achar necessária sua realização. Em abril marquei o exame, estava em uma onda de consultas, pois pretendo cuidar mais de minha saúde. Durante o ultrassom a médica percebeu a presença de algo diferente na mama esquerda. Ela disse que o meu tecido mamário é muito heterogêneo, ou seja, muita “confusão” entre a distribuição do parênquima e da gordura. O que a médica encontrou foi um suposto nódulo bem pequeno, não seria nem sensível ao toque. Só que ela não tinha certeza se era um nódulo ou um lóbulo de gordura, devido à constituição heterogênea da minha mama. Ela me informou que ainda que fosse um nodulo as características seriam de benignidade, então me pediu apenas para fazer o controle. Claro que minha mente assustada e hipocondríaca não sossegou né? Marquei mastologista na mesma semana. Ele me deu informações bem semelhantes, e pediu para fazer controle em seis meses com a médica de confiança dele em um laboratório específico. Os meses foram passando, e nos últimos dias minha ansiedade explodia em meu corpo. Enfim no momento do exame, a médica teve a certeza que se tratava de um nódulo, e que quase todas características exceto uma poderiam o configurar como fibroadenoma, um tipo de nódulo benigno. Para quem não sabe, a chance de ter esse tipo de nodulo é enorme. Meu médico me informou que entre 10 mulheres da minha idade (27 anos) 3 têm nodulo do tipo. Bom, essa única característica que não excluía a malignidade de cara foi necessária para me prescrever uma biópsia. Aí eu surtei. Sem contar os relatos de familiares que me falaram que o procedimento da punção doía muito. Levei o laudo do ultrassom para meu mastologista, e ele me deu a opção de fazer mais de um tipo de exame para verificar a natureza do nodulo. Por fim, eu optei por fazer uma mamotomia. Esse exame tem anestesia local, então juro que a gente não sente nada. E no próprio exame se retira o nódulo por completo, então a gente fica um pouco menos preocupada na hora de fazer o controle a cada seis meses por ultrassom (o que não deixo nunca mais de fazer). Durante o exame colocam um chip no lugar da extração para marcar qualquer crescimento eventual na área. Ahhh o chip não para a gente no aeroporto, perguntei pro doce de médico que fez o procedimento. Graças a Deus o resultado saiu rápido e não mostrou sinal de malignidade. Os achados foram sugestivos de fibroadenoma. Só que preciso fazer sempre controle, apesar desse tipo de nódulo não se transmutar. Não tenho dúvidas que vou manter ansiedade cada vez que fizer um exame do tipo, mas aconselho todas mulheres a fazerem um ultrassom, ainda que não sintam nódulos apalpáveis ou que sejam jovens. Mesmo que não encontrem nada, é bom criar esse hábito; conhecer a constituição e aspecto do seu peito; e também mesmo o nodulo benigno vai crescendo, mesmo que lentamente, e algum dia sentir ele no toque vai ser ainda mais horripilante. Isso sem contar com a possibilidade de aparecer um câncer em uma mulher com menos de 30 anos, o que não deixa de ser uma possibilidade. E o câncer de mama na mulher mais jovem é muito mais agressivo. Então por favor, todas se cuidem!


Gabriela, 25 anos

Desde os oito anos de idade eu sou muito peituda. Tive um desenvolvimento hormonal precoce e era uma pequena criança com peitões. Por ter os seios muito grandes, sempre tive muita dificuldade em fazer o tal do autoexame. Li em cartilhas, a ginecologista me ensinou, mas mesmo assim, é difícil. Tenho muita pele, gordura e tecido para conseguir sentir direito se há algo de diferente ou não. E mesmo que haja, muitas vezes uma leve diferença é sinal de uma alteraçãoo hormonal do ciclo menstrual e daí fica muito mais dificil de auto-diagnosticar. Já passei por ginecologistas que nem encostaram no meu peito, dizendo que eu era “muito nova e sem casos próximos de câncer na familia, por isso não precisava tirar a blusa não”. Outros, melhores médicos, me examinaram e, felizmente, nunca foi detectado nada anormal.


Márcia, 30 anos

Eu tenho vários cistos e alguns nódulos nas duas mamas. Quando eu descobri fiquei muito bolada. Aí o que se faz é acompanhar a cada seis meses por dois anos e se não houver alteração nesse período, fazer o ultrassom preventivo anualmente. Felizmente são nódulos todos benignos e hoje faço o exame só anualmente, mas sempre dá aquele medinho toda vez, né? Outra coisa é que como minha mama é cheia de cistos, o autoexame é praticamente inútil porque não dá pra distinguir direito o que é cisto ou nódulo, o que é uma merda. Mas todas as médicas que já fui repetiram que é muito difícil esse tipo de nódulo que eu tenho virar câncer, então hoje não me estresso muito com isso.


Bruna, 26 anos

Quando eu tinha uns 20 anos, tive um susto em relação à minha saúde mamária. Um caroço apareceu na minha mama esquerda, era duro e pequeno. Como não gerava nenhum incômodo, eu não dei atenção ao caroço de imediato e ele cresceu muito rapidamente. Em uns 10 dias cresceu tanto que chegou a deformar meu mamilo. Meu peito ficou inchado, quente, vermelho e doía quando eu erguia o braço esquerdo. Além disso, duas vezes havia saído leite do meu mamilo. E então, finalmente, eu fui ao médico.
Fizemos um ultrassom mamário e até então eu estava bem tranquila. Quando chegaram os resultados, vimos que o ultrassom indicava um tumor de alguns centímetros, esse tumor vinha de uma inflamação, mas era necessário verificar se o tumor era benigno ou maligno e para isso era necessário fazer uma biópsia – só que nada disso me foi explicado!
Meu médico tinha tantos dedos pra falar comigo e nada era dito objetivamente, ao invés de ser dito palavras como tumor, câncer, exame TAL, eram usados termos genéricos como “coisa pior”, e eu não conseguia entender com que exatamente eu estava lidando. O tom sério assumido e o excesso de hesitações do médico, só me apavorava mais!
Quando eu perguntei se era grave, ele me respondeu “é um tumor, né, claro que é, você já ouviu falar de tumor?” (sim, ele tinha esse jeito meio grosseiro). Eu que não sabia nada de tumores, entendi ali por essa informação e por todos as hesitações que ele estava dando na conversa, que eu estava com câncer. Quando ele me disse que teria que fazer uma biópsia pra saber se era benigno ou maligno, pra mim era só uma questão de saber se eu ia viver ou morrer. O que eu havia entendido até aquele momento era:
TUMOR = CÂNCER.
CÂNCER BENIGNO = UM CÂNCER BAD MAS QUE TEM CURA
CÂNCER MALIGNO = MORRE
Mas ao mesmo tempo que eu “recebia essa notícia bombástica” sobre a minha saúde, eu não me sentia acolhida. Eu queria fazer várias perguntas, mas meu médico me tratava desse jeito meio grosseiro, meio brincando e não me respondia nada objetivamente. Eu não entendia quais seriam os próximos passos, nada. Foi uma semana difícil! Então eu resolvi ir em outro médico, um que eu não me sentisse intimidada de falar e perguntar exatamente o que eu queria, porque escutar que você tem um tumor (que na minha cabeça era um câncer) e não se sentir a vontade de fazer as perguntas que você precisa, é horrível.
No outro mastologista eu descobri que se tratava de uma mastite, uma inflamação mamária – no meu caso, muito intensa -, que geralmente acontece em período de amamentação, mas também pode ocorrer com mulheres que fumam (que era meu caso) ou por algum traumatismo. O leite que saía do meu peito, no caso, não era leite e sim pus. Foram retirados do meu peito quase duas seringas de pus. Fiquei na iminência de fazer uma cirurgia pra tirar completamente o nódulo, mas após tratar a infecção ele praticamente desapareceu. Agora só tenho que ficar mais atenta a esse peito para acompanhar se não há nenhuma anormalidade.
No mais, deu tudo certo, e era muito mais tranquilo do que parecia no início.
Fica como aprendizado que é importante sim fazer as perguntas que você quer fazer para seu médico para não haver desencontros na comunicação em uma coisa tão importante quanto saúde. E sim, buscar segunda opinião é sempre válido.

Caso você não tenha certeza de como fazer o autoexame, informe-se aqui.
Caso você queira saber mais sobre sintomas precoces do câncer de mama, clique aqui.
*Nome alterado a pedido da autora do relato.