Novembro Azul – A masculinidade tóxica também mata homens

novembro_azul_masculindade_toxica
Fonte

O Novembro Azul começou como uma iniciativa semelhante ao Outubro Rosa, com a ideia de conscientizar os homens sobre o câncer de próstata. Como o dia internacional de combate a este tipo de câncer é 17 de Novembro, na Austrália iniciou-se uma campanha que se estendeu por todo o mês, e acabou se espalhando para outros países. Nos Estados Unidos e em outros lugares muitos homens deixam apenas o bigode na barba como maneira de aderir à campanha, mas no Brasil o que pegou mesmo foi a cor azul.

Informação por informação, é claro que conscientização é sempre bem vinda, porém o Novembro Azul é um tema por vezes polêmico. A postura oficial do Ministério da Saúde é a recomendação que a campanha se estenda para o resto do ano, para que os homens continuem se examinando e consultando, não só em novembro.

Também como no caso do Outubro Rosa é preciso ter muito cuidado com muitas empresas querendo pegar carona na iniciativa para fazer publicidade. Com tanto auê é fácil se esquecer da causa inicial, e muitas vezes os produtos especiais do Outubro Rosa e do Novembro azul são vendidos com uma porcentagem irrisória para institutos de prevenção e pesquisa – quando muito.

Portanto é importante sempre nestas campanhas de conscientização lembrar do que realmente está em jogo – e não quais produtos na cor do mês você pode comprar.

Câncer de próstata é coisa séria

Digressões à parte, polêmica ou não, a campanha trata de algo muito sério. Perdendo apenas para o câncer de pele, o câncer de próstata é o mais comum entre homens no Brasil e também o mais fatal. Embora seu surgimento seja mais comum na terceira idade, as populações pardas e negras sofrem com sua incidência em homens mais jovens – casos em o que câncer também é mais agressivo.

Apesar disso, o número de homens que vai ao médico fazer o exame preventivo é alarmantemente baixo. O que é um dado absurdo se considerarmos a detecção precoce do câncer de próstata é a maior aliada às chances de cura.

O procedimento combina o exame de sangue PSA com o toque retal. A recomendação geral é que os homens façam a consulta anualmente a partir dos 50 anos, mas esta idade pode diminuir dependendo do paciente (casos de câncer de próstata na família, estilo de vida, entre outros fatores). Portanto, o urologista deve sempre ser consultado.

Bom, aí chegamos ao ponto principal. Para mim, o fato de muitos homens infelizmente não detectarem o câncer nos estágios iniciais está ligados a dois fatores; um, existe um “tabu” em torno do exame de toque. Dois, homens em geral não vão ao médico e costumam ser péssimos administradores da própria saúde.

Contei em detalhes no meu vlog sobre o HPV como é feito o exame papanicolau em nós mulheres – exame este que geralmente precisamos fazer anualmente desde o início da vida sexual. O procedimento é desagradável e invasivo – muito, muito mais invasivo do que um exame de toque.

Procedimentos médicos em geral são desconfortáveis. Ninguém gosta de levar agulhada, de se submeter a posições extenuantes, sentir dor ou incômodo. Contudo, se levarmos em consideração vários exames que precisamos fazer muitas vezes ao longo da vida, o exame de toque retal, por si só não parece tão ruim.

O problema é claro não é o procedimento em si, mas sim a carga psicológica que ele evoca. Num modelo em que a honra e masculinidade do homem se fortalecem à medida que ele se afasta de qualquer associação ao signo feminino, a ideia de ser penetrado – mesmo que para um exame, para muitos pode ser um horror.

É até engraçado pensar nisso, mas a verdade é que muitos homens preferem colocar a própria saúde em risco do que fazerem algo que para eles está associado a um comportamento feminino ou homossexual (pra gente ter ideia do quanto essa masculinidade tóxica tem os alicerces bem fincadinhos na misoginia e na homofobia – ter câncer é pior do que ser mulher ou um homem gay).

Soma-se a isso o fato de que os homens estatisticamente vão menos ao médico. Inclusive 60% dos que vão só chegam ao pronto-socorro quando estão com doenças em estágios avançados.

Este dado muitas vezes é inclusive citado como argumento anti-feminista. Só que homens vão menos ao médico por razões profundamente machistas. Eles associam consultórios com pessoas “vulneráveis” como mulheres, idosos, e crianças, e para muitos estar entre essas pessoas é um atentado contra a própria masculinidade.

Pior ainda, os homens estão acostumados a não agirem como se a sua própria saúde fosse sua responsabilidade, delegando às mulheres na sua vida esta obrigação. 70% do homens ADULTOS só vão ao médico acompanhados das mulheres. Falei no meu texto sobre a importância do uso da camisinha de como os homens não só muitas vezes insistem em ter uma vida sexual irresponsável pulando o uso do preservativo como também não têm o costume de fazerem exames regulares de infecções sexualmente transmissíveis.

Um exemplo bem concreto de toda esta realidade é o caso do ciclista Vinícius Zambrião, que não fez os exames preventivos e só foi descobrir um câncer de próstata após a namorada insistir que ele fosse ao médico para verificar uma alteração nos testículos. Chega a ser quase inconcebível que um homem adulto precise deste tipo de incentivo para cuidar da própria saúde.

A masculinidade tóxica cria homens que são crianças em corpos de adulto.

Homens que são incapazes de praticar o auto amor e auto cuidado por consequência também são incapazes de amar e cuidar de outras pessoas; são pais piores, companheiros piores, mais infelizes, e muitas vezes, doentes.

A responsabilização pela própria saúde tem de passar pela auto reflexão.

A masculinidade não torna os homens perigosos só para os outros, mas também para si mesmos. Neste Novembro Azul, vamos sim continuar lembrando nossos pais, avôs, irmãos, tios, que eles precisam ir ao médico, neste mês e em todos os outros. Mas também vamos falar sério de saúde do homem, para que haja uma mudança de atitude.

Quem sabe assim um dia vamos viver em uma sociedade em que cuidar da saúde não é uma coisa ruim porque é coisa de mulherzinha.

É coisa de adulto.

Quem tem medo de educação sexual?

sala-de-aula-lousa-escola-publica-1398183134814_615x300.jpg
Fonte

Nunca vou esquecer a primeira aula de educação sexual que eu tive. Tinha dez anos de idade, estava na quarta série. Numa aula de ciências, em que o currículo programático nos mandava estudar sobre os sistemas do corpo humano, finalmente chegamos ao sistema reprodutor.

Estávamos todos na sala muito empolgados e curiosos, muito mais do que jamais estivemos para conhecer nossos órgãos. Aturando muitas piadinhas e risadinhas, a professora nos conduziu pela matéria. Aprendemos quais eram e onde ficavam nossos órgãos reprodutores. Aprendemos como funciona a menstruação. Aprendemos como ocorre a fecundação de um óvulo.

Ao longo da minha adolescência, nos anos seguintes, aprofundamos os temas. Falamos de sexo seguro, de preservativos. Aprendemos sobre os sintomas de ISTs. Falamos de ciclo reprodutivo e métodos anticoncepcionais. Falamos sobre ginecologia, urologia e acompanhamento médico para a saúde sexual.

Minha educação sexual na escola me ofereceu o básico do básico, e muitas vezes deixou a desejar. Não foi no banco da escola que aprendemos sobre orientação sexual, sobre identidade de gênero e transsexualidade. Quem sabe isso teria evitado que um dos meus melhores amigos, gay, sofresse uma tentativa de espancamento de colegas no segundo ano do ensino médio? Mal e mal falamos de masturbação, e jamais ouvi dizer que era normal que mulheres também fizessem. Talvez isso teria evitado a culpa terrível que eu senti quando comecei a me masturbar. Nunca tocamos no assunto de consentimento. Quem sabe isso poderia ter evitado muitos estupros e assédios sofridos pelas minhas amigas e colegas ao longo dos anos?

Quando a gente queria uma informação mais picante recorria à Internet, às revistas como a Capricho, ou às amigas mais experientes. As informações sobre orgasmo, sobre sexo oral, sobre fantasias sexuais, tudo isso era tabu. Mas o básico do básico, para conhecer o meu corpo, eu aprendi na escola.

Ensinar educação sexual é ensinar sobre saúde

Muito triste ter que dizer uma coisa tão óbvia, mas conhecer como nosso corpo funciona é uma questão de saúde. Como cuidar bem de nós mesmos, ou saber quando há algo de errado, é essencial para que possamos viver vidas mais saudáveis. Por isso também temos aulas sobre como funcionam todos os sistemas do nosso corpo. Precisamos conhecer o funcionamento do sistema digestivo, do nosso aparelho respiratório, do nossos sistema nervoso.

Por que seria diferente com o sistema reprodutor?

A educação sexual oferece informações essenciais para que os jovens possam navegar a sua sexualidade com consciência sobre infecções sexualmente transmissíveis, métodos anticoncepcionais, e sua saúde em geral.

Estamos em 2018. Não é possível que vamos achar que jovens não fazem sexo, ou que se negarmos este tipo de informação, adolescentes vão entrar em abstinência sexual. A descoberta da sexualidade é uma parte natural da vida, e o sexo só é perigoso quando é feito sem informação. Conversar com seus filhos é fundamental para que as escolhas quanto ao sexo sejam conscientes e não traumáticas.

Eu fui perder minha virgindade depois dos vinte anos, enquanto outros colegas o fizeram aos quinze. Recebemos a mesma educação sexual, e isso não influenciou na nossa inicialização.

O desmonte não vem de agora

A educação sexual, bem como o progresso educacional, vem sofrendo ataques sistemáticos há alguns anos, provenientes da ingerência religiosa que quer promover a ignorância a todo custo em nosso país. Porém estamos agora diante do ataque mais flagrante à educação sexual de qualidade no Brasil.

O projeto intitulado Escola Sem Partido, que vem ganhando força com o levante conservador/religioso que vivemos no Brasil atualmente, propõe eliminar a educação sexual do currículo de ciências biológicas dos ensinos fundamental e médio. A justificativa se baseia numa paranoia que estes ensinamentos serviriam para “moldar o juízo moral” dos jovens.

Eu de verdade queria muito saber quem em sã consciência acredita que o interesse dos adolescentes por sexo vem da escola e não o contrário. Não é de agora que os jovens procuram saber todo o tipo de informação sobre o tema assim que começam a sentir as primeiras pontadas da puberdade. Sexo é uma parte natural da condição humana, e uma parte importante do nosso amadurecimento.

Existe abundância de informação de todo tipo sobre o sexo na Internet. Não sei como dizer isso sem ser direta: É ingenuidade acreditar que adolescentes não vão se informar sobre sexo se a escola não oferecer mais educação sexual. Estaremos apenas negando a parte mais técnica e chata da informação – justamente a mais importante para a nossa saúde.

Este é o pior momento para fazer isso

Aprender sobre educação sexual na escola é aprender sobre o funcionamento do nosso corpo e nossa saúde, mas é também levantar pontos importantes sobre o sexo que podem deixar nossa sociedade mais justa e segura. Este é o pior momento para negar aos jovens informações tão preciosas, por vários motivos.

Estamos vivendo epidemias de DSTs, principalmente entre os casais heterossexuais

O Brasil está passando por um aumento perigoso nos casos de diversas infecções sexualmente transmissíveis, que podem ser prevenidas com o uso de preservativo. Ano passado, o país sofreu uma epidemia de sífilis, doença que há muitos anos estava praticamente erradicada. Ademais, o HIV vem se espalhando entre os jovens de uma maneira silenciosa. Os casos dobraram em menos de dez anos, e entre os grupos de risco, estão as mulheres heterossexuais em relacionamentos estáveis (vítimas muitas vezes da infidelidades de seus parceiros “cidadãos de bem” e “defensores da família”).

Falar sobre o uso de preservativos, sobre como as DSTs são transmitidas, quais suas causas e consequências, e como preveni-las, é parte fundamental do currículo de educação sexual e uma informação essencial para qualquer jovem antes que a vida sexual se inicie. Estamos vivendo um momento crítico em relação a infecções que podem ser fatais, e negar este tipo de informação com toda certeza agrava – e muito – o quadro.

Estamos matando nossos LGBTs

Quer uma estatística deprimente? O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo – um a cada 19 horas. São cidadãos, jovens, velhos, que trabalham, sonham, dão duro todos os dias. Sou eu. São os meus amigos. São os LGBTs na periferia que sofrem ainda mais discriminação e violência.

Sim, precisamos abordar orientação sexual nas escolas, porque é uma questão de humanidade. O Brasil tem um problema crônico e gravíssimo de homofobia, cujas raízes estão calcadas na ignorância a respeito do tema. Não venha me falar de religião. Todas as religiões, inclusive a cristã, pregam tolerância e amor ao próximo. LGBTs existem, são vulneráveis e estão sendo vítimas de violência, todos os dias. A sua religião aprova isso? Aposto que não.

Não existe curso para aprender a ser gay, minha gente. Quem dera os treze anos do governo do PT tivessem tanto a pauta LGBT em mente quanto a direita conservadora gosta de alardear. Se estamos a mercê de uma agenda gay, porque ainda somos o país mais perigoso NO MUNDO para um homossexual viver? Só podemos parar esta violência educando sobre orientação sexual, e estimulando uma sociedade igualitária e tolerante (não estamos mais na idade das trevas, estamos em 2018, vamos começar a agir de acordo, por favor).

Educação sexual é uma ferramenta de proteção para mulheres e crianças

Além das informações básicas sobre DSTs, e doenças como câncer de mama e de colo de útero, a educação sexual é fundamental para as mulheres. Nada menos que cinco mulheres morrem por dia no nosso país por questões relacionadas à gravidez. Em 2014, os abortos clandestinos levaram 200.000 brasileiras aos hospitais por complicações decorridas do procedimento.

Não vou discutir descriminalizar aborto aqui, isso pode ser assunto para outro post. Minha questão é, se somos totalmente contra a interrupção da gravidez não desejada, precisamos oferecer às mulheres a informação e as ferramentas adequadas para que ela possa prevenir que isso aconteça – isso inclui acesso à meios contraceptivos. Anticoncepcionais, preservativos, pílula do dia seguinte.

Mais do que garantir o acesso das mulheres a estes recursos, é fundamental que elas saibam usá-los corretamente. Somente uma educação sexual de qualidade pode garantir que as brasileiras tenham as informações corretas para viver sua sexualidade de maneira plena e segura.

Ou vocês vão me dizer que acreditam que a partir de agora todo mundo só vai transar pra se reproduzir?

Sem contar o número alarmante de abusos e estupros de crianças e adolescentes no Brasil, cuja maioria ainda acontece dentro de casa. Crianças, em sua maioria mulheres, são vítimas dos abusos de pais e padrastos, como no horrorizante caso recente do homem que estuprou a filha sistematicamente por dois anos, como compensação pelos gastos que tinha com ela com coisas como roupa e alimentação. Aprender o que é sexo na escola e saber diferenciar o que pode ser feito do que é abuso pode ser o que salva uma criança de uma situação dessas.

De maneira geral, não podemos confiar apenas que os pais passem informações sobre educação sexual para os filhos, simplesmente porque por mais bem intencionados ou informados que sejam, educação sexual é principalmente conhecimento científico.

Informar detalhadamente sobre o funcionamento do corpo, sobre infecções sexualmente transmissíveis e métodos anticoncepcionais deve ser dever de quem tem o conhecimento especializado na área. Não esperamos que os pais ensinem aos seus filhos sobre números complexos, sobre como resolver uma equação de saponificação, ou o funcionamento do sistema nervoso. Este conhecimento pode ser complementado em casa, mas é primeiramente dever da escola.

Estamos na contramão do mundo

Dar passos para trás em relação a educação sexual nas escolas é fazer justamente o contrário do que o resto das nações está fazendo, principalmente as mais desenvolvidas. Na Alemanha, onde eu moro, a educação sexual é obrigatória nas escolas, e não engloba apenas os aspectos biológicos do funcionamento do corpo humano, mas também questões de identidade de gênero, sexualidade e relacionamentos.

Numa decisão histórica, a Escócia, país onde vivi por um breve período, acaba de aprovar uma lei que torna obrigatório o ensino sobre a população LGBT+ nas escolas. O novo currículo contará com aulas sobre homofobia e a história dos movimentos sociais LGBT, protegendo e acolhendo alunos da comunidade desde cedo.

A própria UNESCO recomenda a educação sexual como parte do currículo escolar como maneira de garantir que os jovens tenham uma vida sexual segura e responsável, já que as pesquisas apontam que mais informações garantem uma relação mais sadia com o sexo, e não o contrário.

Negar informação é uma forma de oprimir

Do ponto de vista ético, temos o dever enquanto sociedade de dar aos nosso jovens as ferramentas necessárias para que eles entrem na vida adulta capazes de cuidarem de si mesmos. Olhando para as estatísticas atuais, fica claro que omitir informações preciosas neste caso é uma forma de violência, já que estamos negando aos nossos conhecimento que interfere em saúde física e psicológica.

Falando em especial do caso das mulheres, para mim está muito claro que a nossa sexualidade é uma das ferramentas mais utilizadas para a prática da opressão. A liberdade e autonomia femininas começam a ser restringidas em relação nosso corpo desde que somos crianças – somos vigiadas e cerceadas em relação a nossa aparência, como nos vestimos e comportamos e se espalha por todos os aspectos de nossas vidas – nossa sexualidade é associada ao nosso caráter e pode impactar nossas escolhas profissionais, de relacionamento e na maternidade.

Para mim garantir mais liberdade para as mulheres passa necessariamente pela libertação sexual. Devolver para as mulheres sua autonomia sexual é um ato de empoderamento real, porque para além de podermos fazer o que quisermos, retiramos da mão do opressor uma das suas principais armas para nos controlar.

Basicamente, para exemplificar, numa sociedade em que o caráter de uma mulher não está associado ao que ela veste, uma saia curta não pode ser uma justificativa aceitável para um estupro. Numa sociedade em que a maternidade não é vista como punição à mulher pelo ato sexual, os pais precisam assumir seus deveres paternos com responsabilidade e diligência.

A quem serve este salto para trás?

Bom, se a educação sexual é uma fonte de saúde física e mental, a quem interessaria retirar este direito dos nossos jovens? Pessoalmente eu concordo com a ideia de que o que testemunhamos no Brasil hoje é um levante da masculinidade tóxica. Homens que cresceram acreditando que merecem glória e afeto por terem nascido homens e sentem ameaçados e cerceados com a possibilidade de mais igualdade, e querem reafirmar sua relevância dentro da sociedade resgatando valores antigos de uma época em que eles se sentiam mais respeitados e valorizados – mesmo que às custas da opressão de outrem.

No fim, os homens sempre gozaram de mais liberdade sexual e como consequência tiveram mais acesso à informação sobre o tema. Para um homem falar sobre sexo, masturbação, fantasias sexuais, é um sinal de virilidade. Meninos são encorajados a iniciarem a sua vida sexual cedo, e o sexo é considerado coisa de homem, algo que os meninos devem ouvir e falar sobre como uma parte do processo de amadurecimento.

Portanto fica claro que o retrocesso serve apenas para uma parte da população. Não estamos negando conhecimento a todos – estamos negando conhecimento principalmente a mulheres, crianças, e LGBTs. Com isso, quem continua ditando as regras da sexualidade no Brasil são os homens – e o sexo continua a servir como algo que existe apenas para satisfazê-los.

A parte mais cruel disso tudo é que estamos negando proteção básica e saúde a quem mais precisa. São justamente as mulheres, os homossexuais e transsexuais e as crianças os grupos mais vulneráveis e mais propensos a sofrer com abusos, doenças sexualmente transmissíveis e gestações indesejadas.

Para mim, usar religião para justificar um retrocesso dessas proporções, num país cuja população já sofre com as consequências de educação sexual inadequada, é imoral. Educação sexual só assusta quem tem a ganhar mantendo nossos jovens no escuro e em risco. E quem não depende somente da escola para se informar e se proteger.