
Dobrei o corpo de tanto rir, apertando a minha barriga e tentando recuperar o ar. Suspirei várias vezes tentando fazer o oxigênio voltar a circular, limpando as lagriminhas que tinham saído dos cantinhos dos meus olhos. Estávamos há mais de uma hora vendo um vídeo sem sentido atrás do outro no YouTube, apoiando os pés na mesinha de centro bagunçada com a garrafa de vodka que já tínhamos terminado, os sucos para misturar, o pote de sorvete vazio e o bong de vidro. Ele jurou para mim que tinha um vídeo melhor ainda para mostrar, enquanto eu acendia o bong e mandava mais um trago para dentro, a brisa me fazendo sentir que estava flutuando a uns dois centímetros do sofá.
Será que era só a brisa?
Segurei a fumaça na boca e fui soltando devagar. Senti as minhas extremidades formigando de um jeito gostoso, e me servi de mais um copo de vodka com suco. Já tínhamos passado da metade da segunda garrafa. Sacudi a cabeça, rindo de lado. Teria eu encontrado um companheiro de copo a altura?
Ele me mostrou mais um vídeo completamente idiota e hilário e mais uma vez começamos a gargalhar no sofá. Só que dessa vez ele jogou os braços pra trás, acertando meu copo quase cheio no caminho.
E me dando um banho de vodka.
– Ai, caralho, porra! Desculpa, desculpa! – Ele pegou o copo no chão, todo desastrado, sem saber por onde começar a me secar. A frente do meu vestido ficou ensopada e gelou rapidamente, me fazendo arrepiar de um jeito bom. Ele ficou vermelho como um tomate, mortificado.
– Cara, relaxa, não tem problema…
– Desculpa mesmo…
– Relaxa. – Eu queria rir, porque aquela devia ser a primeira vez na vida que não era eu que estava derrubando coisas. Geralmente era eu que estava me desculpando por ter virado bebida em alguém, sendo levantada no chão depois de um tombo, quebrando uma coisa nova logo depois de comprar. Olhei para ele, ele ainda estava sofrendo de vergonha. – Eu disse que não tem problema. Eu tava precisando de uma desculpa pra tirar esse vestido mesmo. – Me livrei da minha jaqueta, e observei com divertimento quando a expressão dele mudou rapidamente de constrangimento para atenção. – Aposto que você fez de propósito.
Eu tirei o vestido ensopado devagar, jogando no chão quando eu terminei. Mordi o lábio porque a ideia de estar só de calcinha e coberta de vodka na frente dele me deixava nervosa de um jeito bom. Como se tivessem ligado um motorzinho eu algum lugar embaixo da minha barriga.
Ele virou o restinho de bebida que tinha no copo. Eu engatinhei até ele, curtindo a ideia de estar praticamente nua enquanto ele ainda estava totalmente vestido. Cheguei bem pertinho da boca dele, e a gente sorriu junto. Era difícil bancar o sério naquele jogo de sedução, quando a gente tinha passado horas gargalhando junto. Quando a gente tinha passado horas falando sobre tudo e qualquer coisa sem nenhum requinte de sofisticação. A minha crueza e o meu entusiasmo tinham encontrado espelho nele e o tesão que eu estava sentindo era só mais uma maneira de a gente se divertir junto.
Quando a gente se beijou, foi rápido, foi desastrado, mas foi com aquela sede de quem nunca teve medo de nenhum de ir com tudo naquilo que dá vontade. Foi uma mistura de mãos e dedos e línguas e logo a gente não sabia onde um começava e o outro terminava. Sentia que estava ficando descabelada, me esfregando no corpo vestido dele com meu torso pregando de vodka e a sensação era de melar a calcinha.
Ele segurou os meus ombros, descendo a boca pelo meu pescoço, mordiscando e descendo a trilha que a bebida deixou no meu corpo.
– Acho que essa é minha nova combinação preferida. – Ele ofegou. – Álcool e você ao mesmo tempo. – Eu ri, balançando a cabeça. Estava muito mais que altinha há tempos já, e parecia que ele tinha tirado as palavras da minha boca. Ele me puxou com força, me fazendo ajoelhar em seu colo enquanto ele lambia toda minha barriga e a lateral do meu corpo.
Puxei o cabelo dele e ele gemeu baixinho. Eu mordi o lábio e levantei a sobrancelha, anotando a informação mentalmente para depois. Puxei de novo com mais força e a gente beijou mais uma vez. A mão dele invadiu a minha calcinha daquele mesmo jeito desajeitado, os dedos dele abrindo caminho e me tocando de maneira vigorosa. Desci da posição em que estava, ficando de quatro sobre ele, para garantir melhor acesso, enquanto arrancava a camiseta dele sem delicadeza nenhuma.
Ele olhava para cima, observando as reações no meu rosto enquanto me tocava, franzindo o cenho e mordendo os lábios, como se quisesse memorizar como me fazer gemer mais alto.
Não demorou e eu estava tremendo, praticamente rebolando contra a mão dele e quando ele sussurrou que queria me ver gozar eu obedeci na hora, como se fosse uma reação espontânea do meu corpo, sobre a qual minha mente não tinha nenhum poder.
Pisquei e sacudi a cabeça para clarear a visão – a sala estava enfumaçada e tudo parecia meio surreal. Ele se levantou do sofá e eu pesquei a ideia, deslizando meus joelhos para o chão e apoiando a meu torso no assento. Ele segurou minha cintura com as duas mãos e me comeu ali, o cheiro do suco de fruta e da maconha impregnando o ar e se misturando com o do nosso sexo. Pensei em muitas coisas; em como parecia que as mãos dele queimavam minha pele, em como ele parecia estar pegando fogo dentro de mim e como eu talvez estivesse gritando alto demais.
Aí ele pediu para eu gritar mais alto ainda.
Foi catártico. Nas mãos dele eu desmanchei, senti que não precisava esconder nem reprimir nada. Toda a minha existência pagã, torpe, libertina fazia sentido quando a gente estava ali, bêbados e suados, entregues um ao outro.
Desmontei no sofá quando acabou, tentando desembaralhar o meu cérebro. Quando ele pareceu voltar para o lugar, me veio a lembrança do vídeo que estávamos vendo antes. E assim recomecei a gargalhar de novo e ele sem nem saber do que eu estava rindo, começou a rir também.
Dizem que o mundo é dos loucos.
Naquela hora, ele foi.