Era fevereiro. A noite estava quente com aquele mormaço grosso do alto verão, a rua estava colorida com os confetes e as fantasias, lotada de pessoas dançando, bebendo, se recusando a parar a festa, tentando estender o carnaval o máximo possível para depois da quarta-feira de cinzas. Eu começava a pensar que aquilo tinha sido uma péssima ideia, como é que eu ia encontrá-lo naquele mar de gente, até que olhei pra frente e o vi do outro lado da rua. Um copo de cerveja na mão, um cigarro preso atrás da orelha, o estilo blasé de se vestir contrastando com as lantejoulas e plumas de todo mundo em volta.
Entre um copo de plástico cheio de cerveja e outro, eu tentava não ficar encarando demais. Os olhos dele capturavam tudo que passava, restava pouco foco para mim. Parecia que estava sempre olhando para algo bem distante, contando das suas aventuras, exalando uma autoconfiança que flertava com a arrogância, o boca em formato de coração fazendo aros com a fumaça do cigarro no ar. Ele se enchia de entusiasmo e de brilho quando contava dos planos para colocar a mochila nas costas e sair sem rumo mais uma vez, e eu sentia boca secar, hipnotizada pela presença, pela aparência, pelas covinhas que apareciam quando ele me lançava um sorriso cafajeste, ou quando ele ria de suas próprias piadas ácidas. Contei que também tinha desejos de sair e ver o mundo, ao que ele me respondeu como uma displicência invejável, “então vai, ué. Compra uma passagem e vai, o que você está esperando?” e eu pensando em todos os meus medos e dúvidas, e naquele charme e desapego que eu tanto queria pra mim, e por um segundo não soube se eu queria ter ele ou ser ele.
Quando ele me beijou, foi de repente. Num segundo os seus olhos estavam na chuva de serpentinas, no seguinte ele me prendia contra um muro enquanto me invadia boca adentro. Não entendi como ele foi de um extremo ao outro tão rápido, mas como se eu tivesse levado um choque, uma corrente elétrica que me atravessou. Ele me beijava com a mesma pressa com que olhava para o mundo, e eu me pendurei nele, mordendo os seus lábios cheios, sugando, lambendo, numa tentativa desesperada de memorizar cada textura.
Voltamos trocando os pés, as risadas ecoando no asfalto, nos juntando a vários outros casais trôpegos que se aventuravam pela última noite de carnaval. Quando ele entrou no meu quarto, foi logo indo para a janela, se pendurando no parapeito, admirando a vista. Mais cerveja gelada para tentar aplacar o calor que vinha de dentro e se misturava com o de fora. Ele passava os dedos pela minha espinha para me sentir arrepiar, e eu olhei para ele pensando, “é, dessa vez, fodeu”.
Os beijos que se seguiram foram um borrão. Lembro das minhas mãos apertando os braços bem torneados melados de mormaço, as mãos dele me apertando com força, em todos os lugares. Em mais um movimento repentino ele arrancou o copo da minha mão, colocando na escrivaninha, e me virou para que eu voltasse a contemplar a janela. E então, desacelerou. Os lábios gelados encontraram a minha nuca, deixando por ali um rastro de beijos e mordidas, enquanto as mãos dele iam descendo os meu vestido de verão, me deixando só de calcinha bem à vista de qualquer vizinho mais atento no prédio ao lado. Uma brisa refrescante passou pelo meu torso nu, minha mente enevoada sem conseguir distinguir luzinha de luzinha no mosaico da cidade, e ele foi descendo a boca pelas minhas costas, lambendo as minhas tatuagens como se eles tivessem gosto, passando a língua pelas covinhas acima no meu quadril, mordendo a minha bunda com força. A calcinha logo desceu para se juntar ao vestido no chão, e eu estava inteiramente nua, tremendo de excitação. Um gemidinho de súplica escapou dos meus lábios quando ele subiu as mãos pela parte interna das minhas coxas, dobrando meu corpo na altura no quadril, me deixando completamente exposta para ele.
Não consegui ficar quieta quando ele começou a me chupar, sem piedade, sem parar, com aquele mesmo entusiasmo, aquele mesmo fôlego. Não me deixou gozar. Quando parou, eu estava trêmula, encharcada, pulsando. Gemi quando ele me penetrou devagar, gritei quando ele puxou meu cabelo e segurou meu quadril, e me reduziu a um emaranhado de nervos, que não conseguia processar mais nada além de sensações. As luzes da cidade se misturavam e ele me invadiu, me subjugou, me fez dele.
Logo ele, que nunca era de ninguém.
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